Poeta pra mim é título mais bonito que o de doutor. E, como o de professor emérito, nunca deveria ser sugerido pelo próprio, ao menos num primeiro momento de uso. “Sou poeta!” Não se diz. É quase como dizer: “sou o cara”. Soa feio, esnobe.
Deixa a menina de cabelos castanhos e olhos amendoados te chamar poeta, assim, de bobeira, como quem não quer nada. Aí você ganha o dia (e, cá entre nós, você nem precisa escrever tão bem pra isso).
Ou então o casal humilde, ao reparar suas estranhezas, comentará: “não se avexe não, vice, que esse é poeta.” Tá explicado, não é não dona Matilde?
Pode ser mesmo que um grande acadêmico declare, com pompa e circunstância: “caro colega, o senhor é poeta dos bons, digno do trono de Machado”. Desse passe longe, faz favor, que de poeta mesmo não há de ter nada.
Há, ainda, os amigos que te chamam poeta por troça, ou gosto, ou por admiração e carinho a você. Esses, guarde com carinho no coração, mas não leve muito a sério, pra não ficar metido a besta.
Mas quando um desconhecido ler um poema seu e disser: “gostei disso, quem é o poeta mesmo?”, pode se gabar, você é o cara. Guarde isso com você, como um segredo, uma delícia só sua.
E volte para sua vidinha normal, abençoando três vezes a santa alma que te fez figurar, por um segundo, no célebre panteão dos vagabundos iluminados.