Tenho um amigo que nasceu ao avesso
Ao avesso do provável
Ao avesso do possível
Ao avesso do indicado
Ao avesso de mim
Deram-lhe um coração com a idade errada
E ele aprendeu a amar de cima
A ver o mundo de cima
Mas o que queria mesmo era poder circular entre os dois mundos
o de cima
e o de baixo
Tenho um amigo que se fez sábio
Engolindo com avidez os segredos do universo
Mas faltou-lhe descobrir o pulo do gato
– Que por baixo de sua corcunda, há os olhos de um falcão
E seu coração ancião ainda tem muito que amar –
Tenho um amigo que sempre estranho
Por olhá-lo e ver-me nu
(Que como qualquer avesso sincero
É o meu reflexo mais nítido
em medos, em sonhos
em dores, em fé)
Mas longe de ser invés só meu
É a síntese antitética do mundo todo
Porque como São Paulo, com sua beleza torta
É o avesso do avesso do avesso do avesso
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