terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Para que o ano novo possa ser realmente novo
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
GoTan ProJect
Gotas granuladas como cogumelos
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Constatação
(em gesto de grande heroísmo)
Teve gente maluca tacando fogo nas ruas
Teve gente mais maluca tacando fogo nas mentes
Teve gente safada tacando fogo nas partes
E ardendo gozando queimando por dentro
Ontem passei três horas pensando em sair de casa
Decidi por não sair, chovia e eu tinha sono
(F5 no screen... 7 atualizações no feed...)
Meu Deus, anos 2.000, o que foi feito da minha juventude?
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Os ferros d’Asbac
Imagem adaptada de:http://blog.iso50.com/wp-content/uploads/2007/11/iso50-vuela-thumb.jpg |
Nos ferros d’Asbac correm vasos de aço
Onde toda circulação é desgaste
Da mesma repetição
Articulações em ângulos exatos
Deslizam os corpos de lá pra cá
E tornam ao repouso inicial, inúteis
A borracha crua reveste quase tudo
– E uns cantos e quinas expostos, sorrateiros
São ossos de concreto a manchar a pele preta
Na carne correm vasos de um sangue fervente
Osso, pele e nervos resistem ao trabalho
Músculos deformam-se conformados
O mundo inteiro aplaude a epopéia dos bravos
Buscando o trágico desejo
De serem exatos e inúteis, como a máquina
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Café Damasco
Na mesa ao lado, executivos festejam a queda do dólar.
sexta-feira, 10 de junho de 2011
Cigarros, Nova York e galãs franceses feiosos
sexta-feira, 3 de junho de 2011
segredo
(e a todos) uma essência,
aqui vai um segredo
(sh! não conta pra ninguém):
não tenho espécie alguma, minha raça é cósmica
quando vocês vinham com o fubá
eu já voltava com o angu!
;-)
domingo, 22 de maio de 2011
Mural Grafite (à la Warhol)
E da laranja mordo a casta, chupo o suco e engulo o bagaço
Sentindo a vida me adentrar pela boca
Peço a meu pai Oxalá que me guarde são
É dele o branco do leite que tomo de um gole
(Dando-me força em oceano de puras cores)
Seu, o branco da paz alegre que trago detrás dos olhos
E o branco do sêmen que transformo em mundo
Não rejeito o cinza do qual fiz lar
Antes acomodo seu grisalho cansado no orgasmo das folhas verdes
– Epiléticas no mar dum vento azul –
E salpico de rosa tímido, olhares discretos a moças bonitas
Com bronze sobre pedestal suspenso, faço um homem, monumento
E seu ar de herói me faz rir como criança no youtube
¡Quem dera, meu Deus, pudesse
Pintar de roxo o seu nariz!
Trotando com vagar pela poeira dos confetes
Que fazem de todo o dia o mesmo Carnaval
Abraço sem pesar essa cidade arco-íris
No calor dum amor que teima inda em ser vermelho
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Transbordo
presa em casca dura de matéria firme
lacrada por lei maior
faz favor! não desafio.
mas a vagem – de onde veio – a impele
a fazer-se também vagem
a fazer-se flor em meio à dureza do meio
(firme como a matéria da casca).
e se o lacre se rompe
salve-se quem puder
foi
fui
transbordo.
transbordo o universo que me faz todo surto
e choro
transbordo o homem que me faz todo peito
e empurro
transbordo a mulher que me faz todo colo
e embalo.
e transbordando, germino
e germinando, rebento
e rebentando, transbordo.
sou copo sem medida
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Apoteótico
Disse que azul era azul e preto era preto
Fez uma confusão no céu das pessoas que passaram a amar
O vermelho
Dançou com passos de quetamina uma dança lenta
Com lindas meninas
Virgens
Achou que seu céu era bom – e disse: viva o meu céu!
Mas não viu que atrás de seu céu, havia o mundo
E no frisson do pavor que sentiu, estatelou-se no seu céu
E lá ficou, vagando todo Deus e doido.
sexta-feira, 25 de março de 2011
Poetando
Poeta pra mim é título mais bonito que o de doutor. E, como o de professor emérito, nunca deveria ser sugerido pelo próprio, ao menos num primeiro momento de uso. “Sou poeta!” Não se diz. É quase como dizer: “sou o cara”. Soa feio, esnobe.
Deixa a menina de cabelos castanhos e olhos amendoados te chamar poeta, assim, de bobeira, como quem não quer nada. Aí você ganha o dia (e, cá entre nós, você nem precisa escrever tão bem pra isso).
Ou então o casal humilde, ao reparar suas estranhezas, comentará: “não se avexe não, vice, que esse é poeta.” Tá explicado, não é não dona Matilde?
Pode ser mesmo que um grande acadêmico declare, com pompa e circunstância: “caro colega, o senhor é poeta dos bons, digno do trono de Machado”. Desse passe longe, faz favor, que de poeta mesmo não há de ter nada.
Há, ainda, os amigos que te chamam poeta por troça, ou gosto, ou por admiração e carinho a você. Esses, guarde com carinho no coração, mas não leve muito a sério, pra não ficar metido a besta.
Mas quando um desconhecido ler um poema seu e disser: “gostei disso, quem é o poeta mesmo?”, pode se gabar, você é o cara. Guarde isso com você, como um segredo, uma delícia só sua.
E volte para sua vidinha normal, abençoando três vezes a santa alma que te fez figurar, por um segundo, no célebre panteão dos vagabundos iluminados.
terça-feira, 15 de março de 2011
Um amigo invisível
Entre tudo que é visto, dito, tocado
Um amigo que ama demais
Que só quer sentir o gosto dos outros
Na sua boca
Seca
de álcool
de tabaco
de desejo
Tenho um amigo que brinca de roda
Segurando pelas mãos
Todas as crianças do mundo
Girando na roda como roda na gira
A paz
Um moleque que brinca nas ruas
Ingênuo
E, ao mesmo tempo, um homem
Lidando com a parte que lhe cabe na herança
(Tão completo que não cabe em si mesmo
E tão incompleto
Que busca no mundo, a todo instante,
O seu espelho)
Tenho um amigo que casou o Sol com a Lua
E nesse beijo prometido e inesperado
Nasceu colorido num mundo em preto e branco
Um amigo urso
Um amigo que é só um sorriso
Grande grande, como é grande o indizível
Grande grande, como é grande o seu abraço
(o abraço que a bisa da amiga
tanto evitou que ela recebesse)
Tenho um amigo urso, de passadas largas
Gestos amplos, cara redonda
E, mesmo assim, ssssuaaaveee
Bonachão como o São Pedro de Bandeira
Tenho um amigo que descobriu, eu acho
A face mais pura da felicidade
(E a escondeu num lugar só dele
Deixando-a transbordar pelos seus dentes)
Um amigo ao avesso
Ao avesso do provável
Ao avesso do possível
Ao avesso do indicado
Ao avesso de mim
Deram-lhe um coração com a idade errada
E ele aprendeu a amar de cima
A ver o mundo de cima
Mas o que queria mesmo era poder circular entre os dois mundos
o de cima
e o de baixo
Tenho um amigo que se fez sábio
Engolindo com avidez os segredos do universo
Mas faltou-lhe descobrir o pulo do gato
– Que por baixo de sua corcunda, há os olhos de um falcão
E seu coração ancião ainda tem muito que amar –
Tenho um amigo que sempre estranho
Por olhá-lo e ver-me nu
(Que como qualquer avesso sincero
É o meu reflexo mais nítido
em medos, em sonhos
em dores, em fé)
Mas longe de ser invés só meu
É a síntese antitética do mundo todo
Porque como São Paulo, com sua beleza torta
É o avesso do avesso do avesso do avesso
Vintedois
Parte 1 – Vontade Primal
Tô cuma vontade primal de viver meus quase vintedois anos.
Não de jogar tudo pro ar. Não, isso não.
De manter-me numa ordem que monto como lego. Mas de injetar nessa ordem um pouco mais de emoção, menos técnica.
Amar. Que doidera isso!
Fazer, criar do meu sangue, mas sentir o que crio com o prazer de compartilhar esse mesmo troço com o mundo, mesmo que o mundo se restrinja a um par de olhos interessados e bola-de-gudemente brilhantes.
Re-vo-lu-ção.
Botar pra quebrar mesmo.
Vintedois, afinal.
Parte 2 – A Nara de Copa
Queria ir a Copacabana ver Nara. Ver Nara? Ou ver nada?
A princípio ver nada. Mas ver Nara seria bem melhor, sem dúvida.
Eu diria para Nara: “Vem Nara, me salva, por favor.
Nara, vem, beija minha boquinha, Nara, Narinha!, deixa eu gozar dentro, deixa amor, nada de mal vai acontecer”.
Queria ver Nara.
A Nara de Copa.
sexta-feira, 4 de março de 2011
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Canibal
a saliva se fazia nova na boca nova
e eu me fazia líquido na boca de Deus)
Chupei a boca do gozo e me espantei: com o gozo mesmo que se fazia meu
super-homem, super-tudo
eu menino em gozo puro
Chupei a boca do gozo – e minha barba encharcada revelava fios ruivos
vermelhos de desejo
vermelhos do vinho que sorvia de boca nova
bebendo carne nova e sangue novo
tragando com voracidade a matéria crua que chupava
alcancei o oco abaixo do esôfago
o preenchi com o calor das bocas em transe
e me desfiz no suor primitivo
que já me inundava por completo
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Meu sangue
Meu sangue cansa, pensa e pulsa.
Meu sangue sangra por poros que descubro com espanto.
Meu sangue é errante, sozinho. É uma gota só.
De genética imemorialmente solitária.
Que sufoca gritos, que quer gritar.
Que pulsa e pensa.
Mas cansa.
Meu sangue jorra em rios que correm para além do Rio, para além de Havana, para além de Santiago, para além do que questiona, para além do que conforma, para além do que se desespera, para além da busca, da iluminação, da paz, para além da iconoclastia, para além da unidade, para além da pluralidade, para além de todas as eras, para além de todos os lugares.
Meu sangue circula em copos – e corpos.
Meu sangue ama o periférico (mesmo que, por vezes, o espie de uma sacada).
Meu sangue dispersa em tragos, ordinários e culpados.
Meu sangue é aristocrata, embora rompa a minha carne e seja o outro também.
Meu sangue tenta, tenta.
E circula mal entre os copos e corpos, e traga com culpa, e não sabe direito quem é ou por que é.
Meu sangue ainda não conseguiu.
Mas tenta, tenta.
Porque ainda não conseguiu descobrir o que é. Mas é latino, contemporâneo e universal.
E pulsa, e pensa. Mas cansa.
Porque ainda não conseguiu descobrir o que é.
Mas tenta, tenta.
O pecado original do poeta
Disse a matrona do Ocidente, no auge de sua formosa pompa, quadrada e soturna debaixo de abóbadas góticas: “tu nasceste, homem impuro, sob o pecado original; nasceste em dívida, pague-a em vida, espie tua culpa nesse vale lágrimas”.
E os homens nunca tiveram paz, pois que haviam sido já concebidos sob a mancha do estigma que carregariam por toda a vida.
E depois de tantos séculos de rebeldia e libertação, quem diria!, o poeta ainda está em pecado. Nasce já sob a maldição de não ter lido nada, de não ter visto nada (nada do quando há para ser visto sob este céu). E a cada dia, cada linha lida equivale a 30 dúzias de milhões de linhas novas escritas. A dívida só aumenta, só aumenta (já disse uma vez Fernando Sabino: “desgraçado daquele que vê, há de pagar pelo crime de ter visto pouco”). E não há o que faça o poeta quitá-la: ele tenta, busca, se espanta... Perde seus dias em angústia e vícios tentando conhecer – intransitivamente – e sabendo que nunca o fará por completo, e como criar o novo quando não se conhece o que foi e o que é? Que método faz do poeta o ser onisciente que pode ser absolvido da maldição? Que bênção o livra dessa terrível sina, dando-lhe o direito de criar de barro fresco, sem repisar eternamente as ruínas de Roma? O que faz, meu Deus!, o que faz o poeta se livrar de vez do ranço de erudição que o prende ao pecado original no qual nasceu sem nem ao menos se dar conta? Quando a vida do poeta deixará de ser uma corrida?
Será que absolvição vem no percurso diário, de suor e labuta?
Será que vem na negação da missão, quando o poeta desiste de seu fardo e resolve fazer de sua própria vida um grande poema?
Será que ela o chega no paraíso, depois de pesadas, numa grande balança de ouro, os prós e os contras de sua obra?
Será que entendi tudo errado?
Serei eu um não-poeta?