domingo, 26 de abril de 2009

Reticências

Segredo do mundo pintado na mente
Segredo da mente marcado no rosto
No canto dos olhos (discreto desgosto)
No trem que já parte, sem ti, reticente

O ônus marcado daquilo que é teu:
Tua voz estridente que nunca saiu
O mundo que, lindo, teu olho não viu
Perdido naquilo que não conheceu

Se flutuas vadio, à contramão
Na desesperança atenta um querer
Num trago, já findo, tua solução

Ou o dia te engole sem mais nem porquê
E se te resta um chão, adéqua-te ou não
Que a história segue com ou sem você...

(alguns momentos em conjunção)

Alguns porquês perdidos no tempo.

Criar alguma coisa nova (necessidade primeira), mexer no que ficou guardado...
É vontade de reunir tudo que eu fiz, medo de jogar qualquer coisa fora – pois tudo é sentimento, então tudo sou eu.
Quero ver o mundo, sentir o cheiro dos bares e das flores, quero ser a América, e isso sou eu.
Quero viver o mundo, bebê-lo, fumá-lo, quero cair em cada um dos lugares comuns do mundo.
Quero o violão e a guitarra, e todos os passos do tango.
Quero todos os livros que não consigo ler porque o tempo de ler é grande demais para os viveres do mundo... Bobagem, que cada viver é eterno e vale a pena.
Quero conseguir canalizar meu fluxo interno e ser o infinito, cada parte do infinito, uma de cada vez.
Quero assumir que nem tudo tem que valer a pena.
Quero, quero...
E querer guardar tudo é não querer jogar o futuro fora...
Bobagem, que o futuro começa depois dessa linha (mas todas as outras foram tudo até agora).

(algum momento de 2008)

terça-feira, 14 de abril de 2009

Aí, mais uma vez, o autor sentou na escrivaninha pra recomeçar.
O frutos do recomeço anterior estavam perdidos.
Mais uma vez soprou a poeira, limpou as teias de aranha.
Tentou se lembrar do que foi, tentou ler o que estava escrito, tentou criar de novo.

E escreveu.

Juntando tudo, ele escreveu.
Ficou uma merda, mas ele gostou.

Pegou o que havia de velho, juntou com o que havia de novo, e num primeiro momento ficou meio aturdido com o pavor que lhe causava aquele livro "meio em branco" na sua frente.
Sentiu-se Deus. Era Deus. Mais uma vez.

Lembrou-se, então, daquilo que havia rabiscado, tempos antes, num pequeno pedaço de papel enquanto voltava para casa de madrugada:
'E se um dia pensar que minhas vísceras estão secas, vê meus olhos.
Vê meus olhos rasgando os teus olhos, no prenúncio de um grito que há de vir.'