quinta-feira, 28 de junho de 2012

Limite

As paredes mudas
                 mudavam a possibilidade da casa

Tudo rijo
como as formigas que silenciassem
nas tocas
a chance da folha, ou da picada

Os rodapés que ansiassem
para além dos fios
pelo canto exposto
ou a rota exposta do rato

Ou os fungos, filamentos milenares
que lembrassem
o suco derramado, o carpete esquecido
a cachorra morta

Entre a lâmpada e o rejunte
a fina lâmina de mariposa
múmia do tempo
da poeira e dos fótons

Na área, a latinha de Coca
implorando escancarada
pela dança das abelhas
nas bordas

Nas teias, na sujeira nos livros
no estofamento de espuma
apenas os planos geométricos
da conspiração dos ácaros

E as folhas da cheflera enorme
em sustento estéril ao ninho
nunca acabado
dos sebinhos bicadores

Arquitetura sóbria
onde o rumor, não mais que indício
                 (no formigueiro do jardim
                 no brilho esquivo do rato
                 na pachorra do bolor ancestral
                 nos fótons, nas bordas, nos ácaros)
 espera 


Do alto das vigas
o anúncio do tremor que viria no próximo espirro
(não veio)


Ou a espada
sempre pendendo no fio de cabelo
sobre a cabeceira da mesa

2 comentários:

  1. João, esse pra mim, sem dúvidas, é o seu melhor poema. E olha que tem muita coisa boa! É, rapaz, a coisa tá ficando séria...

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  2. Muito bom. Eu consegui formar várias imagens na cabeça, o que é sempre muito difícil. rs
    Dá-lhe...

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